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A transformação digital no setor jurídico ganhou novo impulso com a crescente adoção de tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA). Departamentos jurídicos de empresas de médio e grande porte têm incorporado soluções automatizadas para atividades que abrangem desde a análise preditiva de litígios até a revisão de contratos e a gestão documental. A mudança, embora recente em larga escala, já provoca efeitos significativos na maneira como o Direito é praticado no ambiente corporativo.
De acordo com estudos recentes, 74% dos departamentos jurídicos no Brasil já utilizam ferramentas de IA com o objetivo de alinhar suas estratégias aos objetivos organizacionais. Esse dado revela a consolidação de um movimento que busca essencialmente a eficiência operacional e uma tomada de decisão mais assertiva. A automatização permite que atividades tradicionalmente morosas sejam realizadas com maior agilidade, impactando diretamente na produtividade das equipes e na redução dos custos operacionais.
O advogado Diego Barros, especialista em Direito Penal e Empresarial, avalia que a automação jurídica não é mais uma tendência futura, mas uma realidade consolidada. “Escritórios e empresas que não incorporarem essas tecnologias correm o risco de ficar para trás em termos de competitividade”, afirma. Para ele, o avanço da inteligência artificial no setor jurídico representa uma mudança estrutural, que redefine funções e amplia as possibilidades de atuação estratégica dos profissionais do Direito.
Entre os benefícios mais frequentemente apontados no uso da inteligência artificial no meio jurídico está a capacidade de prever o desfecho de litígios com base em análises estatísticas de decisões anteriores. Esse tipo de análise preditiva permite que os departamentos jurídicos avaliem riscos com maior precisão e definam estratégias processuais mais adequadas. Além disso, ferramentas automatizadas de revisão contratual são capazes de identificar inconsistências, cláusulas de risco e oportunidades de melhoria em poucos minutos — processos que, até recentemente, exigiam semanas de trabalho manual minucioso.
O crescimento do uso de soluções tecnológicas no campo jurídico impulsionou também a atuação das chamadas lawtechs, empresas especializadas em desenvolver sistemas inteligentes para o setor. Essas startups têm ganhado espaço ao oferecer produtos adaptados à realidade regulatória brasileira, facilitando a adequação das empresas às normas e procedimentos locais. O investimento em soluções personalizadas reflete não apenas a demanda por eficiência, mas também a necessidade de segurança e confiabilidade no processamento de informações jurídicas sensíveis.
Apesar dos avanços, a utilização de inteligência artificial no setor jurídico ainda impõe desafios importantes. O especialista Diego Barros alerta que a implementação dessas tecnologias deve ser feita de maneira responsável, com atenção especial à segurança da informação e à ética no uso de dados. “A tecnologia deve ser uma aliada do Direito, nunca um substituto do olhar crítico e estratégico do profissional jurídico”, ressalta. Segundo ele, embora a IA seja capaz de processar grandes volumes de informações com rapidez e precisão, a interpretação dos contextos, a definição de estratégias e as decisões mais complexas continuam a depender da sensibilidade e do julgamento humano.
A tendência de digitalização aponta para a consolidação de um novo paradigma: o do jurídico digital. Nesse cenário, a tecnologia atua como ferramenta estratégica, enquanto o papel do profissional de Direito se transforma, assumindo uma função cada vez mais consultiva e orientadora de negócios. A inteligência artificial, nesse contexto, surge não como uma ameaça à atuação humana, mas como um recurso que amplia as capacidades dos profissionais, permitindo que se concentrem em tarefas de maior valor agregado, como a formulação de estratégias e a negociação de acordos complexos.
A experiência brasileira, com alta taxa de adoção dessas ferramentas, sugere que o setor jurídico nacional está atento às oportunidades trazidas pela inovação tecnológica, mas também consciente dos cuidados necessários para que sua utilização seja ética e responsável. O equilíbrio entre eficiência, segurança e responsabilidade será determinante para o futuro das relações jurídicas no contexto corporativo, que, cada vez mais, depende da tecnologia como suporte essencial às suas operações.